O medo é uma das emoções mais básicas que existe. Ele nos protege daquilo que pode trazer prejuízos para nossa sobrevivência. Tudo o que é classificado como potencialmente danoso por nossa mente, nos trará medo. O medo é essencial para nos manter vivos.
Contudo muitas vezes nos percebemos com medo de coisas que não parecem fazer sentido. Isso acontece, porque as razões desse medo não se encontram na consciência, mas sim em otura parte de nossa mente, que é a principal responsável por nosso bem-estar, aqui chamado de Subconsciente.
E, se tratando de medo, existem 2 que são muito frequentes nas pessoas que buscam ajuda na hipnoterapia e é deles que iremos tratar nesse texto. Vou explicar também o motivo desses dois medos não serem um empecilho para o sucesso do tratamento. Vamos ao primeiro deles:
1. Medo de como é estar hipnotizado
Esse é um dos medos mais comuns. É possível observar a ansiedade no olhar de cada cliente quando os convido para se sentar na poltrona e realizar uma demonstração.
Existem diversas razões para esse medo ocorrer, mas a principal é o medo do desconhecido. Tudo o que é novo sempre nos traz um frio na barriga. Uma sensação de não saber o que esperar. Em vários momentos o medo do desconhecido é intensificado devido à expectativa de cada um sobre o que é estar hipnotizado, como vai ser quando for a vez dele.
Muitas vezes, por nunca terem recebido a instrução correta do que é o estado de hipnose, as pessoas esperam algo como uma viagem para outro planeta, um estado de inconsciência onde não tem controle sobre si, acham que vão dormir ou que elas não tem mais possibilidade de escolher o que vai acontecer com elas durante a hipnose.
Para anular o efeito desse medo, durante a avaliação eu conduzo a pessoa até o estado de hipnose para ela observar como é um estado natural da mente, muito tranquilo, agradável e para ela perceber que ela tem todo o controle sobre si mesma.
Não é raro observar, após cada um entrar em hipnose, a sensação de tranquilidade que todos mostram no rosto, por perceberem que é algo extremamente seguro. Algumas pessoas já até mostraram certo desapontamento, porque achavam mesmo que vivenciariam uma experiência quase que sobrenatural.
O estado de hipnose é realmente muito poderoso e nos dá a possibilidade de entrar em contato com recursos internos de maneira mais fácil, mas ele é um estado natural da mente humana. Todo mundo já vivenciou, várias vezes, o estado de hipnose. Só não sabem que era hipnose.
O medo do novo, do desconhecido sempre irá existir, mas sabendo melhor o que é verdadeiramente o estado de hipnose, sendo conduzida para ele você percebe que não tem nada de novidade.
Esse medo é facilmente quebrado durante a avaliação, pois a pessoa pode ser instruída sobre o que é estar hipnotizada por meio da experiência. Mas o segundo medo, o mais frequente, o medo que ainda não encontrei ninguém que não o possua é o mais desafiador:
2. Medo de que não funcione
Esse é certamente o medo mais presente nas pessoas que procuram o atendimento em hipnoterapia. De certa maneira, este medo está presente em todos que buscam algum tipo de ajuda em qualquer lugar que for.
A primeira coisa que você precisa observar é que esse medo já é esperado. E por que ele já é esperado? Porque a pessoa que chega no consultório buscando ajuda, já tentou fazer outras coisas que até então não funcionaram e principalmente ela já se deu conta de que não consegue resolver aquilo sozinha.
Durante a avaliação é deixado bem claro sobre a responsabilidade de que cada pessoa possui sobre a resolução de seus próprios sintomas e isso assusta qualquer um.
Quando eu pergunto: “Quem é a única pessoa responsável por resolver esse problema?” – 1% das pessoas respondem “Nós dois” e 99% responde “Só eu” com um olhar de “Agora ferrou”.
O primeiro ponto importante aqui é: Não, não somos nós dois os responsáveis por resolver o seu problema. A única maneira de resolver problemas de ordem emocional, com o modelo de trabalho que utilizo, é a pessoa se posicionando 100% responsável por si mesma. Sem delegar nenhuma responsabilidade para pai, mãe, marido, terapeuta ou seja lá quem for.
Certamente me dou ao trabalho de deixar isso bem claro e tirar todas as dúvidas do porquê deve ser assim, durante a avaliação. Não significa que estou tirando meu corpo fora, pois eu sou 100% responsável pela condução do processo, por guiar cada um no descobrimento e resolução do conflito, mas cada um é 100% responsável por fazer o que tem que ser feito.
Algumas pessoas podem perguntar: “Se eu não estava conseguindo fazer isso até hoje, o que vai fazer eu conseguir agora durante o processo?”. E eu respondo: “A maneira que você estava tentando era errada.” O que isso quer dizer?
Quando estamos nos sentindo mal, trises, angustiados, amedrontados, buscamos fazer coisas externas (e algumas até internas) para apaziguar aqueles sintomas: caminhar, ler, dormir, comer melhor. Não que isso não nos faça bem, mas para resolver o que você chama de “problema” hoje, é preciso mudar internamente o que está gerando esse problema.
Nossa mente possui muitas defesas contra mudanças. É por isso que estamos vivos, porque aprendemos a automatizar coisas. Esses aprendizados não serão alterados “do nada”. Não é apenas a hipnoterapia que te dará a possibilidade de resolver esses conflitos internos, mas também não será apenas um “pensar positivo” que vai te fazer resolver o sofrimento que carrega.
É como se você quisesse achar a saída de um lugar desconhecido com os olhos vendados e só ficasse dando caneladas nas quinas dos móveis.
Quando você está em hipnose, é como se você pudesse tirar essa venda por um momento para achar a porta e aí escolher se vai ou não passar por ela.
Perceba que disse “escolher ou não passar por ela”. Durante o processo de hipnoterapia você terá a possibilidade de compreender quais experiências estão por trás do seu sofrimento e terá a oportunidade de agir sobre ele, se quiser. Você não perde sua autonomia, você ainda escolhe fazer ou não aquilo que precisa ser feito. Por isso sua melhora é responsabilidade sua.
É importante compreender que a sensação de incapacidade acompanha grande parte dos problemas, ela é também um sintoma. Compreenda o medo de não conseguir, de não funcionar, como um sintoma apenas.
Algumas pessoas podem pensar ainda: “Ok, funcionou com tal pessoa, mas vai que comigo não dê certo”.
Perceba aqui ainda mais evidente o medo como sendo um sintoma apenas. Uma questão ainda mais individual: “Eu não consigo”. Eu sei que sente isso e tá tudo bem, você não precisa se sentir capaz agora, você só precisa estar disposto a mudar.
E aqui é onde entra todo o segredo para aumentar a taxa de sucesso do processo: a disposição para a mudança.
Ter medo de não conseguir é completamente natural. O que não pode existir é:
“Ah, não sei se eu quero realmente. Acho que ainda pode estar bom assim. Se não der certo dessa vez, tudo bem também”.
Essa postura de “tanto faz como tanto fez” age sobre sua mente como uma permissão para se ela manter como está. Se ela pode permanecer assim, por que iria mudar?
Eu compreendo que é uma defesa contra qualquer tipo de fracasso que possa ocorrer, é o medo da frustração, de não conseguir novamente. Mas ela prejudica a entrega ao processo.
A postura mais adequada é:
“Eu não aguento mais isso, só me fala o que precisa ser feito que eu faço”.
Saiba, qualquer situação da sua vida, por mais dolorosa que seja, já aconteceu. Você já viveu cada uma delas e, mesmo que não se lembre de algo, está aí dentro de você, te prejudicando ainda hoje. E o mais importante: o objetivo é resolver cada uma dessas situações, não apenas reabrir a ferida. É encontrar onde está machucado, ver como ele está e agir sobre ele para que a ferida cicatrize.
Para isso acontecer não é preciso coragem, é preciso apenas vontade de mudar e disposição para agir.