Entenda nesse texto o que está por trás do problema que há tanto tempo você tenta resolver, mas não consegue. Seja uma depressão, fobia, dificuldade de parar de fumar, impotência sexual, etc.
Compreenda também que o motivo de você não conseguir resolver é devido a isso não ser um problema para sua mente, mas sim uma solução.
Para compreender isso vou abordar 3 aspectos extremamente importantes de nossa formação psíquica:
1. Retenção e registro de informação,
2. Programação e Automatização, e
3. Execução (os “Problemas”)
Para entender melhor toda a explicação, vamos considerar o caso da cliente A.35. Ela é uma jovem mulher de 35 anos, casada, professora de escola pública e mãe de 2 filhos. Há 5 anos sofre com depressão e já faz tratamento com psiquiatra e acompanhamento psicológico há mais de 3 anos.
O primeiro ponto que você deve entender é que A.35 é um ser humano único, com uma história de vida única. Por mais que tenha passado por experiências iguais em alguns aspectos a outras pessoas, teve suas próprias interpretações destes acontecimentos, e outras experiências bem diferentes, sejam elas grandes ou pequenas.
Vamos então ao primeiro aspecto:
1. Retenção e registro de informações
Se eu te perguntasse agora quem é você, o que você responderia?
Algumas pessoas teriam dificuldade de responder, algumas começariam dizendo seu nome, idade, quem são os pais, com o que trabalha, o que faz da vida. Mas não é somente isso que somos.
Não quero discutir nenhum tipo de crença, portanto vamos nos apegar ao que é consenso. Somos o conjunto de tudo aquilo que já vivemos desde o dia em que fomos concebidos como seres vivos. Somos nossas memórias, emoções, crenças, hábitos, temperamento. Somos tudo isso e, ao mesmo tempo, não somente isso.
Mesmo que você não se lembre de alguma memória ou aprendizado lá da sua infância, aquilo também compõe quem você é aí dentro. É assim que nos formamos como seres. Vamos sendo expostos ao meio, esse meio vai nos ensinando coisas, vamos aprendendo com elas e incorporando a quem somos.
De início temos pouca informação. O básico genético de nossos pais, o resto temos que construir.
“O homem nasce como se fosse uma ‘folha em branco’” (John Locke)
Se nascemos com quase nada de informação é fácil pressupor que, de início, não podemos negar as informações que recebemos de nosso meio externo. Ou seja, não existe como um ser humano em formação julgar uma informação como certa ou errada no início de sua vida. Concorda? Pois não existe nada ainda para servir de base para esse julgamento.
Hoje você pode dizer que roubar é algo errado. Mas para fazer isso antes você teve que entrar em contato com essa informação. E ainda compreender que, em outras culturas, roubar algumas coisas pode ser errado. Enquanto outras pensem que roubar é a única forma existente para conseguir sobreviver, portanto é certo para ela.
Para compreender esse pensamento é necessário, pelo menos por enquanto, se desprender de juízo de valor. Não julgar. Pois é justamente assim que nossa mente mais profunda age.
No início de sua vida, essa mente inicial é completamente aberta às experiências externas. Ela retém tudo o que é dado pelo meio externo. Essa informação inicial dará a base necessária para que as próximas informações sejam, aí sim, avaliadas.
Você está completamente vulnerável e dependente de seu meio exterior para começar a se formar como pessoa. Tudo o que você ouvir e receber de fora, será usado para compor quem você é e quem deverá ser. Tudo o que você concluir nessa primeira fase, servirá para estruturar esse alicerce de sua identidade.
Tudo o que você receber e aprender de início será certo. Pois não havia nada antes para negar. Compreende isso?
É por isso que se fala que os primeiros anos são muito importantes para moldar o caráter de um indivíduo. Ele aceitará suas afirmações como verdade.
Logo, você pode ter recebido informação de que é inteligente, linda, merecedora de carinho e amor, é isso será algo certo para si mesma.
Ou pode ter recebido do seu meio que é burra, feia e que ninguém gosta de você, e isso será certo também.
Essa primeira fase, a de retenção e registro de informação, é crucial para nosso desenvolvimento como pessoa. É a partir dessas informações iniciais que nossa mente irá trabalhar a vida inteira para gerar os resultados em nossa vida.
E nossa cliente A.35 foi uma menina nascida em uma casa relativamente estruturada, com pais casados e dois irmãos, um mais velho e outro mais novo. Mas ela se via como alguém esquecida, nem era a caçula que recebia todos os mimos, nem o primogênito que era o exemplo a ser seguido.
Sua mãe dizia que ela era muito linda, mas sempre a deixava de lado para amamentar o caçula que chorava no berço. Logo, seu entendimento foi que não adiantava o quanto ela fosse bonita ou divertida, era trocada por alguém que importava mais. Nem mesmo suas boas notas na escola a faziam ser o centro das atenções como o irmão mais novo.
Até mesmo quando começou a tirar notas baixas, seu pai dizia que ela tinha que ser como o irmão mais velho, que era esforçado e dedicado nos estudos.
A.35 sabia que era bonita, mas sabia também que sua beleza e inteligência não eram suficientes para ser amada, pois sempre era trocada por outros que eram mais que ela. Sempre tinham algo que ela não tinha e que a faziam não ser digna de amor. Pelo menos era assim que ela entendia.
Conforme vamos crescendo nossa mente começa a realizar escolhas a partir das informações previamente registradas e do contexto em que estamos inseridos. Começamos a dizer, ou sentir, que somos ou não somos algo já baseados em experiências passadas. Nesse momento já existe uma noção de identidade e nossa mente já começa a agir para nos dar mais do que já existe lá dentro, como forma de confirmar quem somos.
Assim, passamos a entender o segundo aspecto dessa nossa constituição como pessoa:
2. Programação e automatização
Toda essa primeira parte de retenção de informação nada mais é do que a criação de nosso banco de dados iniciais. Nós vamos construindo dentro de nós a base que iremos usar futuramente quando precisarmos agir de maneira específica.
É claro que não vivemos absolutamente tudo em nossa infância que estará especificamente ligado a algo no futuro, mas não é assim que funciona dentro de nossas mentes.
Nossa mente reconhece padrões onde a mente consciente não vê sentido. Essa mente que responsável por automatizar respostas, que chamamos de Subconsciente, usa uma lógica própria para fazer seu trabalho.
O importante a saber é que sim, existe uma lógica por trás de padrões de resposta. E para ficar claro, quando eu digo “padrões de resposta” eu estou falando de todo comportamento que é realizado de maneira automática, sem a necessidade de esforço, sem precisar gastar muita energia. Comportamentos que se repetem. Desde hábitos, pensamentos recorrentes, até uma emoção que não passa e te faz querer ficar deitada o dia inteiro.
Ou seja, se inicialmente alguém recebeu a informação e se constituiu como alguém triste, nossa mente vai, conforme vamos crescendo, dar mais atenção para as coisas que nos deixam tristes. Ignorando as coisas boas e legais que acontece conosco. Essa é a primeira forma de automatizar e fortalecer ainda mais o que já foi aprendido.
Em outras palavras, se você acha que é triste e não merece ter sucesso na vida, sua mente trabalha para que você tenha preguiça de estudar e chegar atrasado no serviço, pois assim você pode tirar nota vermelha na prova e ser demitido, se sentindo ainda mais triste e fracassada, por exemplo.
A linguagem dessa mente profunda, do Subconsciente, é emocional. O que quer dizer que ele usa as emoções para saber como agir e o que repetir.
Um lembrete muito importante:
Emoções são respostas fisiológicas. Nós as sentimos em nosso corpo.
Conforme vamos vivendo e experienciando o mundo, vamos aprendendo a dar nomes para essas respostas fisiológicas específicas (emoção). O nome que damos para elas são sentimentos. Os sentimentos podem não representar a totalidade de uma emoção, na verdade raramente conseguem.
Na maioria das vezes você sente no corpo um misto de coisas (isso é a emoção), aí você tenta dar um nome para isso (que é o sentimento). Mas não consegue representar 100% em palavras o que está sentindo.
Então aqui nós estamos falando sobre emoção. Após o subconsciente observar uma repetição de emoção, ele automatiza. Essa emoção com o passar dos anos pode ter sido nomeada como coisas diferentes, como raiva, mágoa, impotência, não importa. O que é automatizado é a emoção, a reação fisiológica.
Por isso as razões de um problema não podem ser compreendidas e resolvidas apenas pela mente consciente, pois nessa mente já existe a interpretação daquelas emoções. Para o consciente não faz sentido uma coisa da infância estar relacionada a algo de quando a pessoa tem 35 anos.
Nos caso de nossa cliente A.35, conforme foi crescendo viveu muitas coisas, mas dois eventos recebeu especial atenção por seu subconsciente.
Um deles quando ela tinha 12 anos onde estava apresentando um trabalho na frente da sala. Ela tinha estudado muito, sabia tudo, mas na hora gaguejava um pouco devido ao nervosismo e alguns colegas, outras crianças, tiravam sarro sem se preocuparem com a presença da professora na sala.
Ela extremamente revoltada pela professora não interromper os colegas que tiravam sarro dela, já que ela sabia, mas estava apenas um pouco nervosa, não era justo agirem daquela maneira com ela.
E quando tinha 30 anos descobriu várias traições do marido. Seu mundo desabou. Seu porto seguro, aquele que parecia ter sido a pessoa que teria enfim dado o valor que ela merecia, tinha traído sua confiança. Nesse momento ela entra numa “depressão profunda”.
Se você leu com um olhar atento deve ter observado que adicionei três fatos à vida de A.35 que estariam por trás de sua depressão. Em conversa com ela, A.35 afirma que sua depressão é devida à traição do marido, mas logo descobrimos que não é apenas isso.
A traição foi apenas uma gota num copo que já estava cheio.
Ouvindo a história de A.35 você não consegue agora saber o que exatamente ela sentiu, sua emoção. Mas certamente ao ler o relato que escrevi, você consegue supor que suas reações fisiológicas foram as mesmas nos eventos que citei.
Toda essa automatização é para que possamos usar nossa energia para conseguir realizar as outras atividades de nossa vida. Novos objetivos, novas atividades que tenhamos vontade de iniciar.
3. Execução do programa – Os “problemas”
Após todo o aprendizado e automatização, nossa mente coloca em execução o que aprendeu. Nos item 2, logo acima, já mencionei que nossa mente passa a focar nas coisas externas que comprovam a verdade inicial dento de nós, e também promovem comportamentos que nos trazem como resultado aquilo que já temos lá dentro de nós.
É justamente nesse segundo ponto que encontramos a resposta para a tão frequente pergunta:
“Por que isso está acontecendo comigo?”
Essa pergunta existe, pois nossa mente consciente não consegue enxergar o padrão sendo executado naquele momento.
No caso de A.35 ela se pergunta:
“Por que nada do que eu faço é suficiente?”
“Por que eu não posso ser feliz como as outras pessoas?”
“Eu sei que sou bonita, inteligente, mas nada disso tem valor. Por que ninguém me dá o devido valor que mereço?”
Todos esses pensamentos e sentimentos refletem o que existe dentro de A.35 e sua depressão faz com que tudo isso ganhe ainda mais força.
Agora vamos nos lembrar do que vimos nos aspectos 1 e 2. Primeiro aprendemos quem somos pelas experiências externas e por nossas interpretações dessas experiências, depois nossa mente observa e automatiza os padrões daquilo que se repete.
Compreende agora o motivo de o sofrimento que você tem hoje, não ser um problema real para sua mente subconsciente?
Para que você consiga, de verdade, resolver aquilo que tanto te incomoda é indispensável poder mostrar para si mesmo, que algumas coisas que você aprendeu sobre si estavam erradas. Naquela época aprendeu como sendo certas, mas hoje sabe que não é.
Que você não é burra, que merece atenção, que merece ser amada, que é capaz de fazer as coisas por conta própria, que é possível ser rica e feliz ao mesmo tempo.
É claro que outras coisas influenciam nos seu bem-estar, você está inserida num sistema complexo de pessoas e situações. Nós veremos isso em próximos textos. Porém se você não compreender que sua maneira de lidar com esse meio sofre influência direta de tudo aquilo que existe dentro de você, você vai ficar apenas fugindo, pulando de galho em galho, culpando os outros por suas dores e continuando a se perguntar:
“Por que isso sempre acontece comigo?”
Um forte abraço!